Relatório aponta risco alto de contaminação cruzada em hospital do DF (Metrópoles)

Unidade tem teto mofado, parede de madeirite no pronto-socorro e um grande déficit de pessoal na fase mais crítica da pandemia da Covid-19

Leia reportagem de Francisco Dutra publicada nesta sexta-feira (16) no Metrópoles, com informações da Comissão de Direito à Saúde da OAB-DF

O Hospital Regional de Taguatinga (HRT) oferece risco de contaminação cruzada na fase mais letal da pandemia do novo coronavírus. Durante diligência na unidade, a força-tarefa Ação Conjunta Covid-19, coordenada para seccional da Ordem do Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF), flagrou esse e outros problemas graves.

Pelo diagnóstico da coordenadora da Ação Conjunta, a presidente da Comissão de Direito à Saúde da OAB-DF, Alexandra Moreschi, o alto risco de contaminação cruzada, entre diferentes alas da unidade, é o principal problema do HRT (foto em destaque). “Os profissionais saem de uma ala para outra sem conseguir se paramentar corretamente”, alertou.

Segundo Moreschi, não há material suficiente. Além disso o quadro de pessoal está muito abaixo do necessário para atender a população. A situação é agravada por uma série de graves problemas estruturais. Em um ponto do hospital, o teto estava tomado por mofo.

“O hospital não é referência para Covid-19, mas atende [casos da doença], interna e possui duas alas de isolamento para atendimento a esses pacientes, sendo uma delas improvisada no meio do PS (pronto-socorro), o que tem ocasionado infecção cruzada em toda unidade e até mesmo no hospital”, destacou Moreschi no relatório.

A superlotação do hospital agrava o cenário. “Muitos dos pacientes quando sobem para internação nos andares estão assintomáticos, mas positivam logo após admissão nas enfermarias e expõem todos os pacientes do andar”, denunciou. Segundo a coordenadora da força-tarefa, os banheiros eram compartilhados por paciente com e sem o novo coronavírus.

O grupo também flagrou má conservação de equipamentos críticos para o tratamento de pacientes. “No final do corredor da unidade tem um espaço pequeno semiaberto, que estava com dois monitores e várias bombas de infusão jogadas”, relatou o documento. Itens quebrados também foram vistos em diferentes pontos do HRT.

Déficit desumano

Conforme o relatório, o déficit de pessoal chegou a um patamar desumano. Diante da dimensão do problema, profissionais de saúde dizem não ter forças para aderir ao Trabalho por Período Definido (TPD) para cobrir as lacunas nos plantões.

“Saliento que, conforme o dimensionamento, o Hospital Regional de Taguatinga do Distrito Federal dispõe de 2.836 horas de déficit de enfermeiros e 5.197 horas de déficit de técnicos de enfermagem. Contudo, evidencio que a taxa de absenteísmo é relevante com a média de 20% e 35% respectivamente”, destacou a coordenadora da Ação Covid-19.

Outro lado

O Metrópoles entrou em contato com a Secretaria de Saúde sobre o relatório. Por nota, a pasta afirmou que a contaminação cruzada é uma possibilidade e uma realidade, diante da alta taxa de transmissibilidade da Covid-19. Contudo, afirmou que trabalhar para que a infecção não se alastre.

Confira a nota completa:

“A direção do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) informa que o serviço de emergência do hospital enfrenta uma grande batalha à frente da Covid-19. Havia um numero elevado de pacientes internados com necessidade de abordagem cirúrgica pela ortopedia e clinica cirúrgica da unidade. Foi elaborada uma força tarefa em conjunto com todos os serviços para dinamizar as equipes e suprir a demanda acumulada. O pronto-socorro foi cedido em 35% ao Serviço de Urgência para pacientes covid.

A diretoria do HRT segue trabalhando para manter os pacientes internados, sob cuidados em leitos na enfermaria e também para prover a realização de testes em pacientes sintomáticos, além dos cuidados de isolamentos no setor de Covid.

A contaminação cruzada é uma realidade e possibilidade em qualquer serviço quando um vírus com alto índice de transmissibilidade como a Covid-19 e variantes. No entanto, a equipe de profissionais trabalha para que esse tipo de contaminação não ocorra na unidade”.

VEJA AQUI A ÍNTEGRA DO RELATÓRIO DE INSPEÇÃO DA COMISSÃO DE SAÚDE DA OAB/DF

Leia esta matéria no Metrópoles.

Foto de capa: Reprodução de imagem do Relatório de Inspeção