Beethoven Andrade
Ser negra e negro é uma dádiva! É carregar na pele a ancestralidade da mãe África que se manifesta todos os dias em nossa sociedade, até mesmo pelos que a desconhecem, ou a renegam, mas não conseguem se distanciar.
Ser negra e negro é saber que somos resultado de tudo aquilo que os nossos foram um dia, que carregamos as marcas da dor, do banzo, de todo sofrimento imposto pelos que nos refutam, mas seguimos em frente, lutando e buscando nosso espaço, por eles, por nós e pelos que virão.
Aquilombar-se é buscar conhecer um pouco mais de nós mesmos, pois, não somos diferentes, mas, também, não somos iguais. Temos diferenças! Não genéticas, mas étnico-culturais, que nos identifica como pretas e pretos ou negras e negros. Somos a orgulhosa e empoderada beleza fora do padrão imposto.
Por isso, no dia 20 de novembro temos de recontar nossa história, ecoar o orgulho de pertencer a um dos povos que formaram a base para a cultura (em sentido amplo) do brasileiro.
Temos de fortalecer a luta por igualdade, por respeito e por tratamento sem quaisquer discriminações ou preconceitos em todos os espaços e ambientes.
Ser uma pessoa negra, feliz e pertencente a si mesma, é não permitir que decidam por você o seu lugar. É preciso ser o que quiser ser.
No 20 de novembro temos de lembrar que “uma arvore não faz floresta” (DITADO YORUBÁ), pois aqueles que andam sozinhos, costumam não conhecer o caminho que seguem. É Ubuntu!
Temos de ser a cada dia mais fortes e perseverantes, como evoca a comemoração do 20 de novembro porque, no Brasil, as marcas da escravidão se perpetuam e se reinventam a cada dia.
Podemos observar a resistência à igualdade que negros e negras reivindicam como uma forma de preservação de privilégios dos grupos dominantes, ou apenas enxergar como mera ausência de educação acerca das diferenças culturais, mas não podemos ser ingênuos ao ponto de acreditar que o racismo é algo superável apenas com punições ou ações educativas.
Negros ainda são preteridos em espaços de poder ou decisórios, e a mulher negra ainda é objetificada, seja na conotação sexual ou meramente como força de trabalho subalternizada, mas não apenas isso, no cotidiano as microagressões são constantes, quando não, os ataques diretos e ofensas, até mesmo agressões físicas tornaram-se notícias corriqueiras em telejornais. Tudo isso somente por conta da cor da pele.
Noutro lado, na observação aos conflitos sociais, os coletivos negros (enquanto grupos) buscam os mesmos objetivos, mas isoladamente. O que precisamos é criar, reforçar e expandir nossos laços. A arte da conquista de espaços virá do esforço coletivo.
A efetivação de cotas e abertura de fronteiras para que pessoas negras possam ascender profissionalmente tem se mostrado cada vez mais eficiente na luta contra a desigualdade. Óbvio, a flutuação (mobilidade) social é o que todos buscamos, mas poder se enxergar em espaços até então inimagináveis, é que fará dos nossos jovens negros e negras sonhadores e realizadores. Lutemos por isso. Viva o 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra! Peço bênção à nossa ancestralidade e união aos presentes. A luta é de todos nós!