Especialistas em Direito Sistêmico propõem novas formas de julgar e advogar

Em auditório com mais de 210 pessoas, a secional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF) abriu, na noite desta quarta-feira (24/4), o primeiro Seminário Internacional de Direito Sistêmico. Por quase três horas, especialistas consagrados no assunto discutiram os avanços do uso da técnica das constelações familiares na solução de conflitos que chegam ao Poder Judiciário.

Pioneiro na adoção do método no Tribunal de Justiça do Estado da Bahia e criador da expressão Direito Sistêmico, o juiz Sami Storch detalhou o quanto a técnica têm ajudado na solução dos conflitos judiciais por meio de acordos entre as partes, tornando os juízes mediadores dos processos.

“Como é que eu vou saber o que realmente é melhor para as partes presentes num processo que chega para mim se eu não os conheço? Eu não tenho como me conectar com a realidade deles. A constelação facilita isso, permite ao juiz olhar além dele, porque ele não é o sabe-tudo. O mesmo vale para o advogado. Estamos falando de uma nova advocacia”, explicou.

Segundo ele, “as constelações servem como lente para enxergarmos as leis do Direito Sistêmico”, que ele define como a aplicação das leis sistêmicas e da filosofia de Bert Hellinger no campo do Direito. “Significa aplicar ao Direito as ordens da vida. É uma nova cultura do Direito”, resume Sami Storch, que já atendeu mais de 1,5 mil pessoas no Fórum onde atua usando a técnica.


Sami Storch é pioneiro no Brasil no uso 
da técnica das constelações no Judiciário

Bert Hellinger é um psicoterapeuta alemão criador de uma forma de abordagem clínica chamada constelações familiares. Trata-se de uma vivência em grupo conduzida por um profissional. No caso do Judiciário, as partes envolvidas em processos judiciais semelhantes participam de vivências coletivas onde os temas em questão são abordados, facilitando o diálogo e, como consequência, a realização de acordos.

“O Direito Sistêmico é, em primeiro lugar, a dignidade da pessoa humana, o princípio constitucional mais básico. É o direito de pertencer com tudo o que pertence em seu lugar”, explicou Sami Storch, ao lado de uma de suas formadoras, Marianne Frank, psicoterapeuta alemã, aluna de Bert Hellinger e autora do livro “Você é um de nós”.

Reverência
Marianne Frank elogiou as iniciativas que vem sendo adotadas no Brasil e contou em sua palestra como conheceu as constelações. “Faz 40 anos que conheci o Bert Hellinger, mais do que metade da minha vida e me lembro dos primeiros seminários, em 1979, como tremíamos de medo. Na época eu era professora no ensino secundário e minha vida se modificou radicalmente. Bert Hellinger me acompanhou em todo este processo”, lembrou.


Marianne Frank foi aluna de Bert Hellinger,
criador da técnica das constelações

Ela narrou algumas estórias de suas salas de aula para mostrar como as lições de Bert Hellinger mudaram sua relação como o trabalho. “Metade dos alunos de minha classe eram hindus ou muçulmanos. Na outra metade, havia católicos, protestantes e ainda os sem religião. Aquilo era muito difícil, especialmente porque, para começar as atividades do dia, eu tinha de rezar com as crianças. Eu sabia que muçulmanos jamais rezariam com os cristãos, mas eu estava sujeita às regras do meu empregador e precisava juntar os diferentes. Um dia, usei então um gesto que todos conhecem: a reverência”, contou.

Segundo ela, a adoção do gesto para cumprimentar seus alunos mudou radicalmente as relações entre ela e eles e entre ela, os pais das crianças e a escola. “Eu trouxe a mensagem de que a dignidade humana é intocável, e, com isso, consegui construir uma transição entre a intimidade da família e a vida social na escola. Só pude trabalhar desta forma graças à minha postura sistêmica”, resumiu.

Posse
O presidente da Comissão de Direito Sistêmico, Rodrigo Rodrigues Alves, enfatizou a palavra gratidão para agradecer aos presentes. “Gratidão nos remete à ideia de que precisamos da ajuda do outro. Ninguém consegue nada se não tiver ajuda e, ao pedir ajuda, estamos sendo sistêmicos. Gratidão também é sentimento de grandeza e nos faz mais humanos. Tenho certeza de que esta Comissão vai ajudar a melhorar o mundo”, afirmou.


Pela primeira vez, a OAB/DF tem uma
Comissão de Direito Sistêmico

Antes do início das palestras, o presidente da OAB/DF, Délio Lins e Silva Junior, empossou os membros da Comissão. “Criamos um comitê para que os advogados possam conhecer as novas áreas do Direito e o Direito Sistêmico tem papel de destaque nesta intenção”, comentou.

O seminário contou também, nesta quarta-feira (17), com palestras de Isabella Oliveira, professora da Faculdade de Comunicação da UnB e psicóloga sistêmica, e Adhara Campos, mestranda em Direitos Humanos e autora do livro “A constelação sistêmica no Judiciário”. Falaram ainda as advogadas Carolline Ruschel, Adriana Batista, e a argentina Cristina Llaguno, as duas últimas pós-graduadas em Direito Sistêmico.