“A questão de ter sido uma modelo conhecida, desejada, não foi o auge para mim. O lugar que eu me encontro hoje é o melhor lugar que eu poderia estar. Não trocaria nada do que eu tenho hoje para voltar atrás. Meu momento agora é de ajudar, olhar e cuidar de mulheres, e eu me considero muito feliz por isso,” afirmou Luiza Brunet, no segundo dia da III Conferência Distrital da Mulher Advogada.
Realizado pela Seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF), o evento trouxe na tarde desta terça-feira (11/06) a atriz, modelo e empresária Luiza Brunet, que apresentou, a convite da presidente da Comissão da Mulher Advogada, Nildete Santana de Oliveira, uma perspectiva sobre sucesso, violência e superação.
Na ocasião, Luiza Brunet compartilhou sua trajetória pessoal e profissional, destacando os desafios que enfrentou. Segundo ela, é fundamental ser perseverante e ter uma constante busca por conhecimento, especialmente no que diz respeito aos direitos.
Contextualizando sua fala, Luiza falou sobre violência doméstica, um tema que ela acompanhou dos seis aos doze anos, quando sofreu abuso sexual em uma casa onde trabalhava como empregada doméstica.
“Foi um trauma que eu carreguei por muito tempo porque naquela época não tínhamos esse espaço de fala. Coisa que eu fiz questão de ter com os meus filhos, tendo diálogo de igual para igual, sem tabus. E a gente precisa sempre trazer essa pauta, pois uma criança que sofre abuso sexual, ela tem muito mais tolerância na adolescência e na vida adulta, minimizando as violências que sofre, infelizmente. Por isso, temos que cuidar das nossas crianças, e a educação é fundamental.”
Luiza reforçou que para evitar que esse ciclo de violência se perpetue por gerações, é importante falar desde cedo sobre como identificar as violações de direitos. “Tem que começar a ensinar desde pequena. Ela tem que saber que tem direitos, saber o que pode e o que não pode acontecer, para quando ela crescer poder se defender, saber que é alguém importante e digna de respeito.”
Luiza Brunet contou que a violência ganhou espaço em sua vida adulta, segundo ela, exatamente por não ter aprendido a identificar os limites, quando se inicia um abuso. “Eu sofri uma série de violências em relacionamentos. No começo era tudo maravilhoso, e então eu ia naturalizando essas violências justamente porque eu assisti violência em casa, na infância, e eu achava que era normal, que era um mau momento, ou que talvez eu tivesse provocado. Eu fui ficando uma mulher triste e sem luz. Até que aconteceu a violência nos Estados Unidos e eu consegui colocar um fim naquela relação. E quando cheguei ao Brasil, fiz a denúncia e tive apoio de um advogado. A justiça estava ali para dizer que eu podia me defender.”
Brunet destacou o simbolismo da OAB na mudança de vida de uma mulher que sofre violência. “Visitei uma casa abrigo em um município de São Paulo e quando entrei tinha uma representação da OAB lá dentro. Fiquei tão feliz que até comecei a chorar. O símbolo da OAB para uma vítima é acalentador. É quando você sabe que a justiça está ali perto de você, é como se fosse uma quebra de algemas. Então vocês são muito importantes para a sociedade como um todo.”
Engajada na pauta feminina e inspirada pelas vivências e pelas experiências das mulheres que apoia, Luiza contou que faz um trabalho que busca levar as mulheres a acreditarem em si. “A gente precisa se valorizar, se reconhecer como uma pessoa única e maravilhosa. Trabalhar na pauta feminina para mim foi um presente. Então eu luto para que elas reconheçam que têm uma expertise profissional e capacidade para progredir.”
Sobre a realidade devastadora e ainda pouco conhecida do tráfico de pessoas, Luiza Brunet falou do trabalho que desenvolve. “Vou fazer em breve um curso nos EUA para aprender um pouco mais e ter acesso a mais informações de como acontece o aliciamento. Hoje nós temos mais de 4 milhões de mulheres vivendo fora do Brasil. E muitas acabam caindo em plataformas sexuais laborais. Em breve irei encontrar com algumas dessas mulheres que moram fora do Brasil e passaram por essa dolorosa experiência. É preciso alertar cada vez mais a sociedade sobre o que acontece por trás do sonho de muitas mulheres que saem de suas cidades em busca de uma vida melhor.”
Ainda sobre o trabalho que realiza junto às mulheres, Luiza contou que está se preparando para ir ao Rio Grande do Sul. “Estou indo fazer um trabalho comunitário em abrigos de mulheres no Rio Grande do Sul, me unido às psicólogas e assistentes sociais. Irei encontrar com essas pessoas que perderam tudo em um cenário devastador. Foi terrível o que aconteceu com as pessoas e com os animais, e estou muito emocionada por poder estar lá.”
Por fim, Luiza Brunet respondeu perguntas encorajando as mulheres a lutarem pelos seus direitos, sem medo da exposição e de julgamentos, e projetou um futuro, em breve, com muitas conquistas femininas.
Muitas mulheres ainda se intimidam para denunciar os abusos e as violências diversas. Como encorajar essas mulheres, sabendo que muitas vezes há uma revitimização da vítima, que é um fator que inibe a denúncia?
“Eu digo que é quebrar um paradigma mesmo, ao se colocar como a vítima. É preciso falar que está sofrendo, seja qual for o tipo de violência, e para isso você precisa de coragem. Normalmente ao denunciar, você estará exposta, poderá ser julgada, questionada, mas se você não valorizar isso, você dará um grande exemplo para a sociedade, o exemplo de ir atrás dos seus direitos, de lutar por eles. É importante dizer que a justiça tem tido uma olhar muito mais sensível para as vítimas, em geral, e isso é muito importante.
Você falou em sua palestra sobre a sua trajetória pessoal, profissional e a militância pelos direitos das mulheres. Nesse tempo, muitas mudanças ocorreram no entendimento da sociedade sobre o que é uma violência. Como você imagina o cenário da luta feminina daqui a cinco anos?
“Quando eu assisto palestras, como a de hoje, com várias especialistas, eu vejo uma luz muito grande para daqui a cinco anos, muita coisa está mudando e muita coisa vai acontecer. Estaremos falando de muitas outras coisas que não só violência doméstica, mas festejando a inclusão das mulheres na política, por exemplo. Hoje temos mais de 50% de mulheres na OAB. Daqui a cinco anos, talvez esse número seja maior. Então a gente vai comemorar mais, pois percebe-se que estamos dentro de um processo, pavimentando uma estrada sem volta. E se a gente continuar assim, a gente vai longe. Vai ser incrível, estamos galgando para uma mudança radical.”
Confira aqui mais sobre o Painel Empreendedorismo e Sucesso, com a participação de Graciela Slongo, presidente da Subseção do Gama; Beatriz Guimarães, presidente do Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura do DF (CMEC-DF); Desirée Gonçalves, conselheira seccional; e Mírian Lavocat, conselheira seccional.
Jornalismo OAB/DF