Brutalidade da tortura é relembrada na mostra de cinema da OAB/DF

Brasília, 22/11/2013 – Compartilhando o testemunho da brutalidade da tortura sofrida durante a ditadura militar, o jornalista Jarbas Silva Marques ministrou uma palestra em que detalhou as práticas de violência a que foi submetido nos anos de chumbo. Sob o título “A Ditadura e a Tortura”, a palestra ocorreu em virtude da mostra de cinema realizada pela Comissão Especial da Verdade da OAB/DF, nesta quinta-feira (21) na sede da Ordem. O evento se encerra nesta sexta-feira (22), com a palestra do ex ministro do Supremo Tribunal Federal, Sepúlveda Pertence, falando sobre a “Ditadura e o Poder Judiciário”, e a exibição do filme Zuzu Angel.

Segundo Jarbas, 200 mil militares foram treinados pelos Estados Unidos para torturar no mundo inteiro. “Os Estados Unidos padronizaram a repressão política e das populações no mundo. Eles dividiram a repressão em duas formas: a preparação de quadros militares e a preparação de policiais civis. No Brasil, pela posição estratégica, Minas Gerais era onde foram organizadas as formas de preparação do golpe militar”,disse.

O jornalista relatou as diversas formas de tortura que ele viveu. “Sou um dos sobreviventes que viveu a evolução técnica da tortura no Brasil. Em Goiás tinha uns tanques grandes que eles faziam a imersão da gente e ai vinha o torturador complementar dar coronhada de fuzil para que não conseguíssemos controlar a respiração~, contou. “Nós nos afogávamos e então nos penduravam igual gancho de açougue. A gente vomitava e ai vinha um médico que fazia o exame, dava reanimante e autorizava começar a tortura novamente”, detalhou.

mostra-cinema-Jarbas-21-11-2013 020Jarbas continuou dizendo que a técnica mudou quando foi torturado no Rio de Janeiro. “Como lá não tinham os tanques grandes que cabiam o corpo, eles passaram a torturar a gente no pau-de-arara com mangueira no nariz e sabão em pó nos olhos. Meu corpo foi usado várias vezes para dar aulas de tortura. Inventaram comigo a tortura chamada “frango assado”, onde eles colocavam o pau-de-arara mais alto e jornal embaixo com fogo. E a gente suava até o suor apagar as chamas do jornal.

O palestrante relatou também a sua experiência no corredor da morte. “Eram 5 celas chamadas de “geladeiras”, com as paredes todas pintadas de preto onde você era jogado nu lá dentro e em dez minutos o calor era de 45° a 50°. Ai eles abriam e jogavam uma lata de água com sal junto com cobras e ratos vivos. Depois abaixavam a temperatura que você ficava batendo queixo. Depois de sofrer frio, calor, água, bicho o torturador trazia uma bandeja de comida, e 20 minutos depois chegava outro dizendo que era o jantar. Tudo isso era uma estruturação da tortura para nos remeter a uma condição fetal, perdendo assim a referência”.

Filme
“Perdão Mister Fiel” foi o documentário da noite de quinta-feira. O filme conta a história da morte sob tortura do operário comunista Manoel Fiel Filho por agentes da repressão, em 1976, nos porões do DOI-CODI de São Paulo. O documentário discute a intervenção dos Estados Unidos nos países da América do Sul nas décadas de 1970/1980 e a caça impiedosa aos comunistas, através da “Operação Condor”, idealizada pela CIA e adotada pelo regime do general chileno Augusto Pinochet. Uma gravação inédita do ex-presidente Ernesto Geisel revela a repercussão da morte de Manoel Fiel Filho nos bastidores do governo militar, que culminou com a demissão do general Ednardo D'Avila, comandante do II Exército na época. Pela primeira vez um documentário conta como morreram alguns jovens que se rebelaram contra a ditadura militar no Brasil. O depoimento, inédito, é de um ex-agente do DOI-CODI.

Reportagem – Priscila Gonçalves
Foto – Valter Zica
Comunicação Social – Jornalismo
OAB/DF