O auditório da Subseção de Gama e Santa Maria da Seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF) recebeu na noite desta quarta-feira (10/08) mais uma Roda de Conversa para o lançamento da campanha “Advocacia Sem Assédio”.
A Subseção recebeu a visita da presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada e palestrante da noite, Cristiane Damasceno, que falou sobre a campanha, sobre experiências e sobre a ideia de uma verdadeira rede de apoio para combater o assédio moral e sexual. “Os dois primeiros passos para combatermos esse grande mal que é o assédio é reconhecermos o problema é termos um local para discutir suas soluções, e é isso que estamos fazendo aqui nesta noite. Essa semana mesmo soube de dois casos, que assim como aquele de Registro, no interior de São Paulo, colegas nossas foram agredidas e assediadas por colegas de profissão. E só não temos mais denúncias porque essas situações são normalizadas, o feminicídio não acontece de uma hora para outra. Ele começa com a piadinha, com o comentário inconveniente, com o desprezo pelas mulheres. Nós já deixamos claro que não queremos ser tratadas dessa forma, mas para muitos homens isso é ‘mimimi’, eles não vêem essas situações como assédio. Por isso é importantíssimo a presença masculina aqui nesta noite, pois, para que as próximas gerações não passem pelo que passamos, os homens precisam mudar”, disse Cristiane Damasceno.
A vice-presidente da Caixa de Assistência dos Advogados (CAADF), Bernadete Teixeira, lembrou que o mundo mudou e hoje não podemos mais admitir que as mulheres sejam assediadas sexualmente e moralmente, e que todas as mulheres e todos os homens devem se unir por essa causa. “Esse tema é de grande importância, pois envolve sensações físicas, sensoriais e também sexuais entre o abusador e sua vítima. É um tema complexo, e reverbera de várias formas em todas nós. Isso acaba por invisibilizar grandes profissionais e grandes mulheres, que passam a questionar se aquele lugar é mesmo para elas, se elas deveriam estar ali. Por isso a importância dessa campanha, aqui, olhando dentro dos olhos uns dos outros, podemos discutir a realidade e criar redes de proteção para todas nós”, comentou Bernadete.
Conforme a presidente da Subseção do Gama e Santa Maria, Graciela Slongo, não existe mulher que não tenha sofrido algum tipo de assédio em sua vida, seja na escola, no trabalho e em outros ambientes que frequenta. E narrou um caso pessoal que marcou diretamente sua vida pessoal e profissional. “Aconteceu quando eu tinha 18 anos e era estagiária em um escritório de advocacia. Muitas vezes saía de lá chorando, me sentindo culpada por aquilo acontecer comigo. No dia seguinte tentava me vestir de uma maneira que não chamasse a atenção desse chefe, mas a coisa foi crescendo, mas eu ia levando, pois precisava daquele trabalho. Até o dia que este homem avançou realmente o sinal e eu pedi para sair. Fiquei muitos anos sem falar sobre isso com ninguém, com medo de ser julgada, quando na verdade o único errado é sempre o assediador”, explicou Mareska, que completou com uma mensagem de otimismo em relação ao futuro: “Hoje temos um canal de denúncias para nós advogadas, e espaços como este para discutirmos o problema. Meu sonho é que as futuras gerações não passem mais por isso, que contem para as amigas como uma história que sua mãe passou, que suas tias passaram. Por isso estamos aqui unidas e unidos nessa campanha tocada pela Cris, que agora não é mais apenas do DF, é a Cris do Brasil”, brincou.
União nacional contra o assédio
A OAB e suas seccionais entendem que já não há mais espaço para omissão ou silêncio em casos de assédio moral e sexual contra mulheres e propõe uma caminhada conjunta no enfrentamento a essa violência. Uma pesquisa da Internacional Bar Association (IBA) apontou ainda que, em 57% dos casos de bullying, os incidentes não foram denunciados. Esse percentual amplia-se para 75% nos casos de assédio sexual. Já 65% das profissionais vítimas de bullying ou assédio pensaram em abandonar o emprego. No Brasil, 23% dos entrevistados dizem já ter sofrido algum tipo de assédio sexual e 51% revelaram já ter sido vítima de bullying.
Com a campanha, a Ordem abre espaço e oferece todo o suporte para que advogadas e profissionais do Direito falem sobre os episódios de assédio, sem que haja medo de retaliações, e ainda incentiva que os crimes sejam denunciados. As denúncias podem ser direcionadas para o endereço www.advsemassedio.org.br.
Entenda o que é assédio moral e sexual
O assédio moral ou sexual é um tipo de violência que ocorre no ambiente de trabalho, é um comportamento complexo que se manifesta de diversas formas, diretas e indiretas, de intensidade e gravidade variada, isolada ou continuada, dificilmente reconhecido e assumido pela sociedade, e que afeta majoritariamente as mulheres.
A cartilha da campanha Advocacia Sem Assédio traz, de forma simples e objetiva, definições, dispositivos legais, exemplos práticos onde são indicadas situações que configuram assédio moral e assédio sexual, elencando as causas presumíveis e consequências desse tipo de comportamento.
A presidente da CNMA afirma que “é necessário prevenir e combater as condutas reconhecidas como assédio, obstando o seu surgimento e erradicando qualquer atitude que possa ser considerada constitutiva do assédio no local de trabalho, a fim de garantir a proteção dos direitos fundamentais da pessoa, reconhecidos constitucionalmente”, diz Cristiane Damasceno.
Pesquisa global da Internacional Bar Association (IBA) sobre assédio sexual e moral nas profissões jurídicas revelou que uma em cada três advogadas já foi assediada sexualmente. Uma em cada duas mulheres entrevistadas já sofreu assédio moral.
Para baixar a cartilha do Advocacia Sem Assédio clique aqui.
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Texto: Euclides Bitelo – Comunicação OAB/DF
Fotos: Eduardo Braz