Roda de conversa marca o lançamento da campanha Advocacia Sem Assédio em Ceilândia

“A luta não é de uma, é de todas. E de todos”, com esse bordão podemos resumir a campanha “Advocacia Sem Assédio”, que foi lançada nesta quinta-feira (19/05) em uma roda de conversa no auditório da Subseção de Ceilândia da Seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF). A ideia é que uma verdadeira rede em apoio à ação seja mobilizada para combater o assédio moral e sexual.

“É muito importante trazer essa temática às nossas subseções. Viajando pelo Brasil, agora que recebi essa missão, percebo o quanto esse assunto é importante e como isso ainda é um tabu e causa constrangimentos em muitos lugares. Precisamos mudar a nossa visão, o nosso ambiente de trabalho, transformá-lo em um lugar mais colaborativo e sabermos que não estamos sozinhos. Quando ocupo este lugar hoje, atualmente, sei que levo 650 mil advogadas comigo, e precisamos saber que essa luta é das mulheres e dos homens que querem transformar o mundo”, disse a presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada (CNMA), Cristiane Damasceno.

O presidente da Subseção de Ceilândia, Leonardo Rabelo, lembrou que o mundo mudou e hoje não podemos mais admitir que as mulheres sejam assediadas sexualmente e moralmente. Também falou que sempre teve em sua mão um grande exemplo de força. “Crescer com uma mulher guerreira como minha mãe me ensinou muito. Temos muito orgulho por esse trabalho que a Cris iniciou aqui em Brasília e que hoje já é referência em todo Brasil. Mesmo que o lugar de fala seja de vocês, quero dizer que estamos juntos nessa luta, pois essa é uma atitude que mancha a advocacia e que não pode mais ser admitida. Nenhuma mulher deve passar por esse constrangimento e essa violência”, disse Leonardo.

A vice-presidente da Caixa de Assistência dos Advogados (CAADF), Bernadete Teixeira, falou de sua experiência, e da importância das mulheres ocuparem cada vez mais posições de liderança e destaque. “O assédio faz com que a gente se sinta mal, que a gente não se sinta pertencente àquele lugar. E todas nós já passamos por algum tipo de situação assim. Quantas mulheres, quando são escolhidas para algum cargo, têm que enfrentar o preconceito e a desconfiança das pessoas? Quando alguém me pergunta por que fui escolhida para ser a primeira vice-presidente da CAADF, eu devolvo a pergunta: por que você acha que eu fui escolhida? Então, estar aqui hoje é saber que não estamos sozinhas, que representamos muitas mulheres que não tiveram essas oportunidades e as próximas gerações que já encontrarão um caminho aberto”, ponderou Bernadete.

Para a vice-presidente da Subseção de Ceilândia, Hanelise Justo, esse é um momento de virada na vida das mulheres, para que as novas gerações não tenham que passar por tudo que as gerações atuais, e principalmente as gerações anteriores, passaram para conseguirem se estabelecer. “Esse evento aqui hoje, tenho certeza, que lá na frente fará toda a diferença. Se cada um de nós sair daqui hoje e passar essa mensagem adiante e mudarmos a vida de uma pessoa já terá valido a pena”, finalizou Hanelise.

União nacional contra o assédio

A OAB e suas seccionais entendem que já não há mais espaço para omissão ou silêncio em casos de assédio moral e sexual contra mulheres e propõe uma caminhada conjunta no enfrentamento a essa violência. Uma pesquisa da Internacional Bar Association (IBA) apontou ainda que, em 57% dos casos de bullying, os incidentes não foram denunciados. Esse percentual amplia-se para 75% nos casos de assédio sexual. Já 65% das profissionais vítimas de bullying ou assédio pensaram em abandonar o emprego. No Brasil, 23% dos entrevistados dizem já ter sofrido algum tipo de assédio sexual e 51% revelaram já ter sido vítima de bullying.

Com a campanha, a Ordem abre espaço e oferece todo o suporte para que advogadas e profissionais do Direito falem sobre os episódios de assédio, sem que haja medo de retaliações, e ainda incentiva que os crimes sejam denunciados. As denúncias podem ser direcionadas para o endereço www.advsemassedio.org.br.

Entenda o que é assédio moral e sexual

O assédio moral ou sexual é um tipo de violência que ocorre no ambiente de trabalho, é um comportamento complexo que se manifesta de diversas formas, diretas e indiretas, de intensidade e gravidade variada, isolada ou continuada, dificilmente reconhecido e assumido pela sociedade, e que afeta majoritariamente as mulheres.

A cartilha da campanha Advocacia Sem Assédio traz, de forma simples e objetiva, definições, dispositivos legais, exemplos práticos onde são indicadas situações que configuram assédio moral e assédio sexual, elencando as causas presumíveis e consequências desse tipo de comportamento.

A presidente da CNMA afirma que “é necessário prevenir e combater as condutas reconhecidas como assédio, obstando o seu surgimento e erradicando qualquer atitude que possa ser considerada constitutiva do assédio no local de trabalho, a fim de garantir a proteção dos direitos fundamentais da pessoa, reconhecidos constitucionalmente”, diz Cristiane Damasceno.

Pesquisa global da Internacional Bar Association (IBA) sobre assédio sexual e moral nas profissões jurídicas revelou que uma em cada três advogadas já foi assediada sexualmente. Uma em cada duas mulheres entrevistadas já sofreu assédio moral.

Clique aqui para conhecer a cartilha e baixá-la.https://s.oab.org.br/arquivos/2022/03/724864ec-d5c5-4348-9231-31b50ffae086.pdf

Texto: Euclides Bitelo – Comunicação OAB/DF
Fotos: Roberto Rodrigues