A Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Distrito Federal, por meio da Comissão de Migrações e Comércio Exterior, com o apoio da organização Women In Trade & Development, reuniu mulheres líderes nas suas áreas de trabalho para participar da palestra “Mulheres no Comércio Internacional”. O evento aconteceu nesta quinta-feira (9/12), às 9h, e foi transmitido no canal da OAB/DF, no Youtube.
A palestra buscou abordar os desafios específicos das mulheres na atuação em comércio internacional e as maneiras que essa atuação pode incentivar o empoderamento feminino, além de tratar as formas que os regimes internacionais de comércio têm endereçado os desafios de gênero e os meios para superá-los.
Por que um Coletivo de Mulheres Sobre o Comércio Internacional?
A primeira palestrante do evento foi a cofundadora da Women In Trade (WIT), Verônica Baltazar Prates, que falou sobre o tema “Por que um Coletivo de Mulheres Sobre o Comércio Internacional?”. Verônica iniciou a palestra explicando o que motivou a ideia de criar um coletivo de mulheres e qual a necessidade dessa iniciativa. “A ideia era buscar um caminho para sanar um incômodo em comum entre nós, e que identificamos ser um incômodo recorrente entre outras mulheres. Tínhamos duas questões interessantes que eram: a gente precisava atingir os espaços e posições de liderança, e a segunda era achar essas mulheres para que elas pudessem aparecer.”
A cofundadora do WIT ainda falou o que o coletivo buscava e separou em três itens: referência, conexão e atitude. “Nós queremos ter referências, ver mulheres que chegaram lá para ter em quem se inspirar, precisamos também de conexão, hoje nós temos nas redes sociais um alcance de mais de três mil seguidores ativos. E por fim atitude, nós estamos constantemente mudando, aumentando de tamanho e estamos caminhando para cada vez mais profissionalizar a instituição.”
Comércio Internacional: como contribuir para o empoderamento das mulheres?
A segunda palestra foi comandada pela presidente da Comissão de Migrações e Comércio Exterior da OAB/DF, Clarita Costa Maia, que abordou o tema “Como o Comércio Internacional pode Contribuir para o Empoderamento das Mulheres?”.
“Estudos econômicos de todos os países ressaltam que a mulher é a que menos ganha na economia, a que menos subtrai da economia e a que mais contribui proporcionalmente para a economia doméstica”. Clarita iniciou sua palestra elucidando como as mulheres são responsáveis pelas futuras forças de trabalho de uma nação.
Clarita compreende que empoderar a mulher significa empoderar o próprio país e a sua economia. A presidente da Comissão prosseguiu explorando algumas questões práticas que comprovam com aquilo que foi afirmado por ela. “O Banco Mundial e a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) empreenderam estudos a respeito do impacto do comércio exterior no bem estar das mulheres e como as mulheres também impactam no comércio. Os resultados foram muito positivos e quase intuitivos.”
Clarita finalizou a palestra dizendo o que pode e deve ser feito pela valorização das mulheres dentro do comércio exterior. “É preciso que se estabeleça uma matriz de informação sobre o impacto de gênero para que se removam de fato essas tarifas nos setores onde as mulheres trabalham e dos quais mais consomem.”
Mulheres Negras e o Comércio Internacional
A mestre em Direito das Relações Internacionais e Europeia, Marina Cristine Pantoja Bernardes, falou sobre o tema “Mulheres Negras e o Comércio Internacional”.
Marina explica que dentro da temática da inserção da mulher no comércio internacional existe uma outra discussão com um peso histórico que é a inclusão da mulher negra no comércio. “Nós temos um desafio duplo, por ser mulher e por ser negra. Os negros foram trazidos para o Brasil com o intuito de serem escravizados, então, desde sempre, tiveram poucos espaços. Estamos falando sobre a luta negra que vem de um passado de ser tratado como mercadoria para hoje uma representatividade necessária.”
Mesmo com as dificuldades nessa integração da mulher negra, Marina ainda enxerga com otimismo o futuro dentro do comércio internacional, trazendo referências de empresas que trazem ideias para solucionar esse problema. “Como exemplo, eu trago a startup ‘Negras Plurais' que tem a proposta de introduzir a mulher negra dentro do mercado profissional, e essa inserção é sustentada, também, por um viés psicológico de demonstração de que o padrão dela de beleza, inteligência e representatividade está em via de ser transformado, e embora esteja em construção já apresentou uma melhora nos últimos anos.”
A Nova Geração do Comércio Internacional
A palestra sobre “A Nova Geração do Comércio Internacional” foi comandada pela advogada, membro da Comissão de Migrações e Comércio Exterior da OAB/DF e co-líder da organização Woman Inside Trade (WIT), Carolina de Almeida Bermudez.
Na sua apresentação, Carolina representou a WIT Starters, que tem como iniciativa conectar e trazer referências para as mulheres dentro do comércio internacional. O objetivo da organização é inspirar estudantes universitárias recém-formadas para adentrar o ambiente do comércio internacional. Também é proposto criar pontes entre profissionais na expansão de conhecimentos da área.
O público-alvo é de estudantes universitários ou com até dois anos de formação. Os cursos não são restritos somente para estudantes de Direito, mas também para Relações Internacionais, Comércio Exterior, Economia, Administração e outros relacionados à área. “Você não precisa só seguir uma carreira dentro da advocacia, ou mesmo seguir uma carreira de diplomacia, para trabalhar com comércio internacional, a gente quis, de fato, expandir e, desde já, demonstrar para elas que existem essas diversas possibilidades”.
Para finalizar, Carolina divulgou o processo seletivo, que tem previsão para acontecer em fevereiro do próximo ano. Mais informações serão divulgadas nas redes sociais da WIT Starters.
O Poder Revolucionário da Educação no Empoderamento das Mulheres
“O Poder Revolucionário da Educação no Empoderamento das Mulheres” foi o tema explorado pela palestrante Belisa Magi, que é presidente do Instituto Signativo, uma organização sem fins lucrativos que nasceu no ano de 2016. A entidade tem a missão de fomentar a escola criativa e apoiar educadores em seu caminho de autodesenvolvimento. “A educação é uma grande arma, nas mãos das mulheres, e nas mãos de qualquer pessoa, né? O conhecimento gera uma forma muito potente de transformação”.
A instituição atua em áreas como neurociência aplicada à aprendizagem, inteligência emocional, atividades pedagógicas participativas e a aprendizagem profunda, que é uma filosofia com origem no Canadá, onde, segundo Belisa, “temos a possibilidade de sermos nós mesmos e estarmos mais preparados para o futuro”.
As Cláusulas de Gênero nos Tratados Internacionais
O painel “As Cláusulas de Gênero nos Tratados Internacionais” teve a participação da advogada especializada em comércio internacional Carla Junqueira, que destacou as questões sociais e econômicas nos tratados internacionais e como isso afeta no empoderamento feminino. “Os acordos mais modernos de comércio internacional têm sido construídos a partir dessa possibilidade de poder contribuir de uma maneira importante para empoderar economicamente essas mulheres e, portanto, aumentar o desenvolvimento econômico.”
Carla fechou o painel falando sobre a necessidade de atuação dos comitês de comércio para que as cláusulas de gênero passem a ser acrescentadas e cumpridas dentro dos tratados internacionais. “No acordo Brasil-Chile temos o capítulo 18 que faz referência específica de gênero. Esses acordos demoraram muito tempo para acrescentar as cláusulas de gênero, por isso, a importância fundamental de existir os comitês de comércio dos acordos.”
As Mulheres no Comex
Encerrando a palestra, a vice-presidente do Mulheres no Comex (MoC), Carolina Marchioli, falou sobre a iniciativa do MoC e o que o grupo vem fazendo pela atuação das mulheres no comércio exterior. “Nós temos desenvolvido um trabalho muito sério durante esses quatro anos, criando uma comunidade voltada para as demandas das mulheres dentro do mercado de comércio exterior, mas que une um universo dos mais diferentes mercados.”
Carolina trouxe, ainda, um compilado de informações sobre o Mulheres no Comex e finalizou mostrando os principais pontos coletados em relação ao perfil das mulheres no comércio exterior, os desafios enfrentados e o futuro da área. “De maneira geral, as mulheres são maioria na área, apesar de terem bastante interesse em capacitação, poucos participam de cursos. E quando falamos sobre o futuro do comércio exterior, as palavras que mais aparecem são: digital, crescimento, desburocratização e competitividade.”
Confira a palestra na íntegra clicando aqui.
Texto: André Luca e Marcus Almeida (estagiários sob supervisão de Esther Caldas)
Comunicação OAB/DF