Setenta novos advogados receberam nesta terça-feira (26/2) o documento oficial que lhes permite exercer a advocacia e representar a sociedade: a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Distrito Federal (OAB/DF).
O documento foi entregue a cada um dos novatos pelo presidente da seccional do DF, Délio Lins e Silva Júnior, acompanhado de conselheiros federais, representantes da diretoria e de diferentes Comissões e Subseções da OAB/DF, além de membros da diretoria da Caixa de Assistência dos Advogados do Distrito Federal. “Todos fizeram questão de estarem aqui hoje neste dia tão especial para vocês”, afirmou Délio, ao saudar os novos colegas de profissão “Tenho certeza de que é especial, porque me lembro até hoje quando eu estava sentado aí”, contou.
O orador Rômulo Leone Nunes revelou em seu discurso que não queria ser advogado, mas se apaixonou pelo Direito. “Sempre fui da área de exatas. Quase me formei em Engenharia Mecânica, adorava discutir física”, disse.
Ele contou que, ainda no início dos estudos, pensava apenas em ser professor. Entretanto, a influência de dois professores e a ajuda a uma colega num processo motivado por doença o inspiraram a seguir o caminho contrário. “Não entrava na minha cabeça ganhar dinheiro com a desgraça alheia, mas me dispus a escrever, gratuitamente, uma petição para o caso dela. Foram 50 minutos de redação e 15 dias depois recebi uma ligação informando que o juiz tinha autorizado meu pedido de tutela antecipada”, lembrou.
Segundo Rômulo, naquele momento ele entendeu que poderia ajudar a sociedade. “Se 50 minutos da minha vida mudaram para a melhor a vida de uma pessoa acamada e de sua família, o que eu poderia fazer se me dedicasse a isso constantemente? Entendi ali que nós não ganhamos dinheiro em cima da desgraça alheia, nós confortamos as pessoas que estão envolvidas naquela situação, porque sabemos o que fazer e como fazer quando o mundo está desabando sobre a cabeça de alguém”, lembrou.
O paraninfo Antônio Castro de Almeida, advogado criminalista, ex-conselheiro da OAB nacional e da OAB/DF, afirmou em seu discurso que nunca teve dúvidas quanto ao Direito. “Eu sempre quis ser advogado. A profissão de advogado tem um compromisso com a sociedade que me encanta”. Alertou, porém, aos novos advogados sobre o contexto em que iniciam a advocacia. “Vocês recebem a OAB num momento dramático, quase trágico da estória do país. Mais do que nunca, o advogado se faz necessário à sociedade, temos um momento de exclusão dos direitos, um momento em que a reafirmação da Constituição passa a ser quase um ato revolucionário.
Kakay, como é conhecido no meio jurídico, criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) e o projeto 5.668/2016, que obriga a comprovação da origem lícita de valores pagos a título de honorários advocatícios. “Depois de advogar por tantos anos, eu julgava que estaria nestes últimos anos na tribuna do STF para defender o abolicionismo penal, o fim da pena privativa de liberdade, salvo para casos extremos. No entanto, lá estava eu para defender a presunção de inocência, porque o Supremo ousou afastar, sem poder, o princípio constitucional de presunção de inocência”, disse. “E agora há ainda uma tentativa do Legislativo de de levar a advocacia a comparar um advogado com o crime ou com a pessoa que ele está defendendo. Temos de resistir”, defendeu.
Camilla Brasil, 25 anos, uma das 70 advogadas que receberam a carteira da OAB/DF, se emocionou com os discursos. “Eu vim aqui inspirada a defender a Constituição, os direitos da sociedade”, comentou ela, que se formou pela Universidade de Brasília (UnB).
Ao lado dela, Kayo César Ribeiro de Melo, 26 anos, segurou a carteira como uma vitória pessoal. Após um acidente de carro em 2015 que comprometeu os movimentos das pernas, ele interrompeu o curso de Direito próximo de se formar. Conseguiu o diploma agora. “Eu quis desistir, mas enfrentei, e sinto um orgulho enorme de estar aqui e imaginar o que posso fazer pelos outros”.