Brasília, 22/05/2015 – “Ousar e compreender a importância de uma profissão que tem nesse requisito, a ousadia, a sua razão de ser” – este foi o lema lançado aos advogados em início de carreira pelo ex-presidente nacional da OAB, Cezar Britto, durante palestra de abertura do I Encontro da Jovem Advocacia do Cerrado, nesta quinta-feira à noite, no auditório da Seccional da OAB do Distrito Federal.
Muito aplaudido, Britto fez um apanhado das várias fases ao longo dos 30 anos já completados de sua carreira como advogado para concluir que, embora tenha colhido inúmeras realizações, considera-se ainda um profissional em constante formação. “Nós existimos para lutar e ousar, inclusive ousar vencer, que continuarei perseguindo enquanto viver”, disse.
Ao lembrar o início de sua carreira, após seu engajamento no movimento estudantil como forma de luta contra a ditadura militar, Cezar Britto disse que encontrou na altivez de uma profissão comprometida com o ideário de liberdade uma forma de superar a timidez que sempre o caracterizou como pessoa.
E, nessa condição, acrescentou, passou a melhor entender e pôr em prática o inteiro teor do artigo 7º do Estatuto da Advocacia, que dentre outras diretivas, estabelece, como direitos dos advogados, ter respeitada a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração, quando estes se acharem presos, e ingressar livremente nas salas de sessões dos tribunais, mesmo além dos cancelos que separam a parte reservada aos magistrados.
Nesse ponto, ao perguntar aos participantes se conheciam o artigo citado, Britto foi surpreendido com o baixo número de pessoas que, em meio a sorrisos, levantaram as mãos. Ele aproveitou, então, para contar um episódio de sua carreira, quando durante uma sessão na qual iria proceder a uma sustentação oral, recusou-se a obedecer à determinação do juiz para que aguardasse sua vez sentado. “Ante a insistência do magistrado, repeti o termo da lei que dá direito ao advogado permanecer sentado ou em pé e retirar-se independentemente de licença”, disse. Contrariado, o juiz suspendeu temporariamente a sessão até se convencer da razão do advogado. “No final, perdi a causa que estava defendendo. Mas em compensação, não perdi a dignidade”, relatou Britto, arrancando aplausos.
Outra máxima lembrada por Cezar Britto foi a de que a advocacia não é uma profissão para covardes, atribuída ao célebre Sobral Pinto (1893-1991), advogado e um dos mais ferrenhos defensores dos direitos humanos. Pois está na advocacia, conforme lembrou, a última esperança dos desacreditados pela Justiça. “Quando nada mais resta ao ser humano, depois de perder tudo, ainda sobra a esperança para que lhe seja feita justiça, encarnada na figura do advogado”, disse.
Comunicação Social – Jornalismo
OAB/DF
Fotos – Valter Zica